Desconfio que Eddie Irvine foi contratado por um consórcio formado pelo Bernie Ecclestone, pela Mercedes e pelas emissoras de TV que transmitem o Mundial de Fórmula 1 para 202 países (eu nem sabia que existiam tantos, mas pelo menos é o que diz a FIA). E já cumpriu muito bem seu papel na primeira corrida do ano, domingo passado na Austrália.
Consta que Irvine foi chamado duas semanas atrás para um encontro secreto num restaurante em Bolonha onde se come o melhor risoto do mundo. A voz ao telefone, metálica e alterada eletronicamente por um sintetizador, dizia que tinha uma proposta irrecusável para o irlandês. Irvine topou comparecer à reunião, desde que pagassem a conta.
Assim foi. O encontro aconteceu numa mesa de canto do tal restaurante e Eddie logo identificou seu contato. Ele vestia um capote escuro, óculos enormes e usava um bigode evidentemente falso, pois era escuro e os cabelos do sujeito estavam para lá de grisalhos.
Irvine também foi disfarçado, mas quando entrou no restaurante notou-se um certo zum-zum-zum no ar, porque sobre a peruca loira ele usava o boné de seu patrocinador. A conversa foi rápida. O sujeito, que depois soube-se que era Bernie Ecclestone, pois estava com os pezinhos no ar e pedira ao garçom uma almofadinha para colocar na cadeira, procurou ser objetivo.
Entregou a Irvine um plano de trabalho de 17 etapas, datilografado numa Remington antiga (a perícia que chegou a essa conclusão, não eu), bastante claro e de simples execução. Tivemos acesso a uma cópia. No item 1, dizia apenas: Tirar JV na volta 1 do GP da AUS. Não é preciso ser adivinho para decifrar o teor da mensagem, redigida em código tacanho. O item 2 fala alguma coisa sobre furar pneu de HH antes da largada do GP do BR e o 3 insinua uma noitada de tango até as quatro da manhã do dia do GP da ARG para o Alemão, com mulheres, se possível.
Falta apurar quem é o tal Alemão, mas as investigações apontam na direção de um certo Schumacher, não se sabe ainda ao certo se Michael ou Ralf. O acordo financeiro foi verbal, para não deixar rastros. É uma operação complicada, envolvendo ações na Bolsa de Londres e emissão de títulos públicos de vários países, um deles da América do Sul, lucro garantido, segundo o sujeito de capote e bigodes falsos.
Não há provas, mas parece que Irvine concordou, especialmente depois do argumento de seu interlocutor, de que ele não ia ganhar nada mesmo este ano, e que é melhor garantir uma aposentadoria tranquila em vez de ficar dando murro em ponta de faca.
As conexões deste plano mirabolante podem chegar à Alemanha, mas a Mercedes nega qualquer envolvimento e diz que a vitória de David Coulthard em Melbourne foi mérito do piloto e da equipe. A empresa também garante que o cara que trocou o pneu do carro do Frentzen com a velocidade de um cágado não tem relação nenhuma com o país, embora fale alemão fluentemente e torça para o Bayern de Munique. Ele apenas estudou no Goethe e aprendeu rápido, disse uma fonte não-identificada.
E se tudo isso for necessário para fazer deste o melhor campeonato dos últimos tempos, que seja assim.