Eu sou um baita mentiroso com meus filhos, e eles, claro, já perceberam isso. Tanto que o mais novo já cunhou uma reação básica para minhas cascatas, que eram monumentais quando eles eram bem pequenos (“o papai um dia parou um trem com a mão esquerda para salvar um cachorro que estava no trilho”, ou “o papai um dia pousou um avião porque o piloto desmaiou”) e hoje são mais sutis (“cheguei em segundo na corrida com meu Lada”, ou “a Portuguesa vai contratar o Cristiano Ronaldo”).
A elas, as cascatas, o caçula diz só “opa”. Que significa um monte de coisas: “Pai, não sou mais criança, você não segura nem trenzinho elétrico”, ou “pai, você tem medo de altura, se o piloto desmaiar você morre do coração antes de ele cair no chão”. Assim, com três letrinhas, ele economiza o verbo e me deixa com cara de tonto.
Nesta semana, pingou no noticiário especializado a possibilidade de criação de uma nova equipe de Fórmula 1. O que se sabe até agora: vai se chamar USF1, terá sua sede em Charlotte, perto da turma da Nascar, seus pilotos serão americanos e os empreendedores são Peter Windsor, jornalista inglês, e Ken Anderson, engenheiro americano. A “equipe” tem até site, http://www.usf1.com, para quem quiser tentar. Aparece só o logotipo e mais nada.
Windsor, que pessoalmente é uma mala sem alça, sempre quis ter uma equipe de F-1. Amicíssimo de Nigel Mansell, foi dirigente da Williams em meados dos anos 80. Tentou comprar a Brabham em 1989, mas não deu certo. Processou os vendedores, ganhou uma grana, e no ano seguinte foi nomeado chefe do escritório que a Ferrari montou na Inglaterra sob o comando de John Barnard.
Sempre com Mansell, seguiu para os EUA em 1993, quando o inglês foi correr na Indy. Ficou algum tempo na América e voltou à Europa onde, desde 1998 conduz as entrevistas unilaterais da FIA na F-1, além de trabalhar para a Fox, emissora de TV a cabo. É metido que só ele. Já trocamos umas cotoveladas e microfonadas em entrevistas mais concorridas.
Anderson, por sua vez, tem currículo mais extenso no esporte a motor. Começou no motocross americano, se especializou em amortecedores, chegou a trabalhar na Penske em cargo de chefia, depois foi para a Ligier, passou pela Onyx e, de volta aos EUA, ocupou várias funções em diversas equipes grandes e pequenas da Cart e da IRL, cujo regulamento técnico ajudou a escrever, quando a categoria nasceu. Aí foi parar na Nascar.
O mundo vive uma crise financeira de arrepiar os cabelos e o epicentro dela está justamente nos EUA. Nenhum dos dois tem dinheiro para montar uma equipe de F-1, arrumar patrocinadores vai ser uma tarefa dificílima, e pensar um time sediado na América do Norte, onde nem corrida tem mais, me parece uma maluquice. Mas há quem garanta que vão fazer, e com as bênçãos de Bernie Ecclestone.
Como diz meu moleque mais novo, opa.