DULCE LEE – 17/03/2005

Havia uma fotógrafa nos anos 70 com quem topei de frente procurando já não sei mais o quê na internet, e também não importa, porque o que encontrei foi bem melhor. Uma moça alta, bonita, moderna, além de seu tempo. Credite-se à minha ignorância a falta de informações mais precisas, já que ela, Dulce Lee, é certamente bem mais importante e conhecida do que farão supor estas linhas repletas de impressionismo vago. Dois ou três telefonemas me ajudariam a compor um perfil decente, mas muitas vezes prefiro ficar com a impressão do que com os fatos, e não seria num espaço tão curto que contaria a história desta mulher. Um livro, quem sabe? (Mais um livro que nunca escreverei.)

Dulce, de 1970 a 1976, foi presença feminina quase única na ilha viril e máscula de Interlagos, Fórmula 1 incluída. E lá fora também, porque ela não clicava apenas aqui, circulava pela Europa com a mesma desenvoltura e talento. Amiga de todos os pilotos, foi casada com um deles, Anisio Campos, o maior desenhista de automóveis que o Brasil já teve — e ainda tem, porque Anisio continua firme e forte com seus longos cabelos brancos e despejando no mundo ideias que brotam sem parar de sua mente de artista.

E é isso que é Dulce, uma artista das câmeras e lentes, que emprestou às corridas durante alguns poucos anos um olhar absolutamente particular, de estética refinada a partir de técnicas de revelação e ampliação que, até onde eu sei, não se usam mais nesta era de retratos digitais gravados em “memory sticks”. Nada contra a modernidade, mas tudo a favor do que se fazia antes. As fotos de corridas publicadas em seu blog não me deixam mentir. São pinturas.

Dulce amava carros e corridas, e foi uma espécie de fotógrafa oficial da Equipe Hollywood, um ícone das pistas brasileiras de três décadas atrás. Usava “chapéus e colares diferentes” (as aspas são de um texto dela mesma) numa época em que “corridas eram corridas de verdade”. Seu trabalho, com carros, flores ou pessoas, é um primor.

Feliz coincidência esta, de achar no emaranhado de www’s em que se transformou a vida do jornalista o olhar de Dulce sobre as pistas, na mesma semana em que ganhei o livro de Tom Wolfe com um olhar literário sobre uma corrida de Nascar de 1964. Não se olha mais para nada hoje como antigamente.

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