O HAMBURGUER DE MAZZACANE – 22/06/2000

Há quem imagine que a vida de um piloto de Fórmula 1, qualquer um, é quase um conto de fadas. Carros velozes, festas fenomenais, coquetéis, fama, mulheres lindíssimas, assédio da imprensa, muito dinheiro. Bem, isso pode ser verdade para alguns. Para todos, definitivamente não. O Gastón Mazzacane, por exemplo. Certo, corre na Minardi, uma equipe pequena, quase risível, mas é uma equipe de F-1, bem ou mal faz parte de uma elite esportiva.

E estava eu segunda-feira esperando meu avião em Montreal quando a mocinha avisou que ia atrasar. Sem muito o que fazer, fui até o Burger King do aeroporto alimentar a alma com um double whoper com queijo e sem cebola, quando vejo encostadinho num balcão, sozinho, o pobre do Mazzacane.

Comia um x-alguma coisa e tomava coca-cola. No aeroporto havia um monte de torcedores voltando para suas casas, com camisetas da Ferrari e bonés da Williams. Ninguém reconheceu o Mazzacane, que olhava meio desolado para suas batatas-fritas. Até que um sujeito, que fazia parte de grupo de fãs da McLaren, cochichou com um amigo alguma coisa. Havia uma dúvida clara em seu rosto. Pegou um programa oficial da corrida, aquelas revistas que têm as fotos dos pilotos, olhou de lado, comparou, e concluiu que sim, aquele cara comendo hambúrguer era piloto de F-1.

Timidamente, se aproximou. Antes de pedir um autógrafo, perguntou se Mazzacane era Mazzacane. Ele sorriu, confirmou, assinou o nome num pedaço de papel e ainda tirou uma foto ao lado do rapaz. Terminou o sanduíche, levantou e foi para o portão de embarque, sem ser incomodado por mais ninguém. Quando os outros amigos do fã chegaram, ele mostrou o autógrafo, rindo meio constrangido. Só um louco para pedir autógrafo ao Mazzacane, e ele parecia compreender isso, aceitando sua maluquice. Tudo bem, fãs são fãs. Têm direito a maluquices.

Observei tudo aquilo enquanto lambuzava os dedos com catchup. Não sou piloto, por isso ninguém me pediu nada, nem fotos, nem autógrafos, e fiquei feliz por ser um anônimo. Sentimento que o Mazzacane não deve compartilhar comigo. Fama, para quem quer ser famoso, deve fazer falta.

E você deve estar perguntando: que diabo de colunista é esse que fala sobre o hambúrguer do Mazzacane depois do que aconteceu com Barrichello em Montreal? E eu respondo com uma pergunta: o que aconteceu com Barrichello em Montreal? Até onde eu saiba, chegou em segundo, como já fizera antes. Ah, a Ferrari não deixou ele ganhar! Bem, eu diria que o Schumacher deixou ele chegar. E, mais uma vez, Rubens exagerou no tom ao falar em comprar briga, etc. e tal. Mas isso é problema dele, não meu.

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